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08 março 2010

CHEIRO DE SAUDADE
Vocês já sentiram um cheiro de saudade? Isso acontece muito comigo, principalmente quando entro em algum lugar que me traz recordações. Através de uma memória olfativa, me remeto a um tempo pretérito que emociona.
Já tive a experiência de entrar num teatro quinze anos após a minha estréia e sentir arrepiar os pelos do braço, o frio no estômago, o cheiro irresistível de ansiedade misturado com o mofo.
E quando reencontrei a menina que namorei na infância... meus olhos quase pularam! Senti um cheiro inebriante de cabelos misturado com o agradável toque das nossas roupas de frio. O meu peito doeu... o coração bateu mais rápido.
O mundo roda e, segundo os astrólogos, as emoções sempre se repetem.
As minhas emoções recorrentes vêm acompanhadas desses cheiros. No Projac, sentia o forte odor de madeira e tinta fresca; na Universidade Castelo Branco, onde trabalho, o cheiro é de piscina. Na minha casa, sinto um cheiro gostoso de tranquilidade e durante as madrugadas, quase de manhã, abro a janela para respirar o sabor das gotas de orvalho...
Em Minas Gerais, sinto um cheiro danado de mãe... Lá, eu me sinto em casa, me sinto seguro e, com isso, gosto mais de mim. Em Minas, reinvento o mundo, sinto frio nos pés, durmo de edredom e, durante o sono, saio de casa para cheirar o mundo... Cheiro de mãe lá fora, cheiro de manhã aqui dentro.E quando o galo canta, sinto o cheiro de Araruama... sinto o perfume de Paty do Alferes e de tantas outras cidadezinhas em que já passei.
Quando coloco os pés na água do mar, sinto cheiros que ardem, sinto ares que falam, que reclamam na beira da areia, que exalam o perfume dos cardumes, dos limbos, dos perigos eminentes... nesses dias, me torno tão Pacífico quanto o Atlântico Sul.
Meus amores, sinto cheiros! Quem me dera, um dia, poder comê-los, ressuscitá-los, abraçá-los... sê-los!"
João Pedro Roriz escritor e jornalista carioca