O amor apaixonado de Deus
Dom Anuar Battisti -- Arcebispo de Maringá
"Em diálogo com um jovem ele me perguntava: "Qual a festa mais importante para nós cristãos católicos?" "Natal ou páscoa?" Eu respondi: o que você pensa que seja? Ele timidamente me disse: "Eu penso que é o Natal." Respondi: o Natal é mais iluminado, tem cheiro de festa grande, tudo é empolgante. Mas, para nós cristãos católicos a festa mais importante é a celebração da Páscoa, porque foi na Paixão, morte e ressurreição, que fomos salvos para sempre.
O Filho de Deus feito carne no Natal se torna vítima para resgatar, no Seu sacrifício da cruz, o ser humano mergulhado nas trevas do pecado. Diante desta breve explicação o jovem respondeu: eu sempre senti algo diferente na Semana Santa. Não sei explicar. Agora entendo. Que bacana!
Nas cartas de Santo Atanásio, um dos grandes escritores do século IV, lemos: "É belo, meus irmãos, passar de uma para outra festa, de uma oração para outra, de uma solenidade, para outra solenidade. Aproxima-se o tempo que nos traz um novo início e o anúncio da santa Páscoa, na qual o Senhor foi imolado. Do seu alimento nos sustentamos como de um manjar de vida, e a nossa alma se delicia com o sangue precioso de Cristo como numa fonte.
Nosso Salvador está perto daqueles que tem sede, e na sua bondade convida todos os corações sedentos para o grande dia da festa, dizendo:
"Se alguém tem sede, venha a mim, e beba" (Jo 7, 37). Deus, que desde o princípio instituiu esta festa para nós, concede-nos a graça de celebrá-la cada ano. Ele que, para nossa salvação, entregou à morte Seu próprio Filho, pelo mesmo motivo nos proporciona esta Santa Solenidade que não tem igual no decurso do ano".
Somos infinitamente privilegiados. Merecer pelos pecados, unicamente pela nossa humanidade contaminada pelo mal, a salvação pelo próprio Filho de Deus, que deixando o seu ser Deus se fez um de nós, e como homem entregou a Sua vida por todos, é sim um privilégio que jamais entenderemos.
Celebrar a Semana Santa é reconhecer que temos um Deus que nos ama loucamente. Só no amor de Deus podemos aceitar e acreditar nesta graça infinita. Parar, orar, recordar os passos deste mistério de amor, é para todos nós cristãos o sentido da próxima semana que vamos viver.
Por isso é que não posso trocar os três dias da celebração pascal, por três dias que denominamos "feriadão". Não foi em um feriadão que Deus nos amou. Não foi em dia de folga que Deus assumiu a nossa miséria humana. Não foi passeando que Deus inventou o dia Santo da Páscoa. Mas tenho o direito de descansar? Claro que sim. Porém, antes, tenho o dever de agradecer o amor que Deus tem por mim, de maneira especial participando do Tríduo Pascal.
O poder de Deus manifestou-se em nós e por nós no segredo profundo de Seu amor apaixonado, criando-nos à Sua imagem e semelhança, e resgatando-nos para sempre. Somos herdeiros de uma herança eterna, herança merecida por Jesus, de nossa parte, sem mérito algum.
Celebrar a Semana Santa é reviver cada passo de nossa salvação. É trazer ao coração o que existe de mais fundamental na nossa existência terrena. Quem sabe não teremos outra Semana Santa para reconhecer o amor apaixonado de Deus, por mim e por você. Essa talvez será a última chance!"
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