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23 maio 2011

Índices de inflação preocupam
Darci Piana -Presidente do Sistema Fecomércio Sesc Senac Paraná

"Já no fim do ano passado podia-se vislumbrar no aumento dos índices de inflação o principal efeito colateral e maléfico do crescimento da economia. Enquanto a meta inflacionária do Banco Central para 2010 era 4,5%, com dois pontos de margem para mais ou para menos, a inflação verificada foi 5,91%.
Neste ano, o problema segue dando dor de cabeça aos técnicos da área econômica. A inflação atingiu 3,23% no 1.º quadrimestre, contra 2,65% no mesmo período do ano passado. A meta anual, igual a de 2010, vem sendo superada mês a mês, fazendo com que o índice acumulado em 12 meses já chegue a 6,51%.
Os principais responsáveis pelo recrudescimento da inflação são alimentos e combustíveis. Contribuem também a elevação das commodities no mercado externo, o aumento do petróleo na sequência da instabilidade política mundial e a queda na produção de países exportadores (Líbia e outros países do norte da África, mais países asiáticos da OPEP) e também a elevada cotação do açúcar no mercado internacional, o que redirecionou parte da produção das usinas brasileiras e reduziu a oferta de etanol. Os combustíveis em alta refletem sobre os preços dos transportes.
O governo brasileiro tratou de tomar medidas para evitar maiores turbulências. Aumentou a taxa básica de juros, passando a 12%, e cortou R$ 50 bilhões do orçamento de 2011. Mais ainda, determinou a redução, adiamento ou cancelamento de vagas no serviço público federal. Tais providências devem produzir efeitos apenas no segundo semestre, não tendo condições de impactar os índices imediatamente.
A questão, no entanto, é mais complexa. O mercado competitivo condiciona as empresas a reduzirem margens de lucro ou adiarem repasses para os preços. A permanente valorização do real em relação a outras moedas facilita a entrada de produtos importados, a preços atraentes. Ao mesmo tempo, fatores como aumento do emprego, a melhora da remuneração média em diversas categorias, com destaque para a construção civil, a maior massa de salários na economia e a ascensão da população para faixas de renda mais elevadas mantêm aquecida a demanda.
Tudo parece conspirar contra o combate à espiral inflacionária, a começar pela pouca confiança do mercado em relação à eficiência das providências adotadas.
Há outras a tomar, como a ampliação da oferta de alimentos e produtos básicos, maior produção de etanol e efetiva redução dos gastos públicos.
Cabe mencionar, também, a inexistência de uma política reguladora de estoques no Brasil, como forma de conter aumentos de preços em produtos básicos. O próprio etanol ainda é tratado como derivado agrícola, quando ele se destaca como componente fundamental de uma nova matriz energética.
Considerando o combate à inflação uma questão primordial de política econômica, é preciso que o governo estabeleça outras estratégias que se mostrem adequadas para a estabilização.
Após a convivência com a hiperinflação em 1993, quando o valor anual chegou a quase 3.000%, com todos os danos e malefícios decorrentes, não se pode permitir a ressurreição de um problema que, além dos efeitos sobre a economia, possui extensas ramificações políticas e sociais. O combate à inflação no Brasil deve ser implacável, permanente e prioritário.
Porém, em nenhum momento os efeitos do combate à inflação podem recair sobre a atividade do comércio, que dá mostras de força ao crescer de forma consistente, gerando empregos e aumentando a arrecadação oficial.
Em resumo, o desafio do governo concentra-se em resolver essa equação. Inflação em queda de um lado, comércio forte de outro. É o preço a pagar pelo crescimento do país. "

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