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18 fevereiro 2009

Armas e Rosas da América do Norte

"Guns N' Roses desafia a democracia americana em épocas de crise mundial
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A banda americana Guns N' Roses liderada pelo polêmico Axl Rose demorou 14 anos para lançar o seu sexto álbum, o Chinese Democracy. Como era de se esperar, sem o guitarrista Slash e outros membros originais da banda, Axl domina o palco da Guns e interpreta canções ora agressivas, ora sentimentais, comprometendo-se com novas tendências (como o Trip Hop) e ratificando sua ideologia política através da música-título do projeto.
Apesar de algumas canções terem vazado há anos pela Internet, os fãs de hard rock que viveram tempo suficiente para adquirir o produto não precisarão de grandes argumentos para colocar o novo CD nas paradas de sucesso. Bastará o fanatismo por Axl, que além de bom compositor e músico, foi eleito o homem mais bonito em 1992 pela Revista People e um dos melhores frontmans da história do rock segundo opiniões populares.
Apesar das eminentes qualidades, a carreira do roqueiro foi marcada por consumos industriais de álcool e drogas, brigas e prisões. Hoje em dia, aos 46 anos, o músico está mais maduro emocionalmente, menos atlético e com pouca disposição para os famosos agudos e correrias que dava durante seus shows. Talvez por isso, Axl Rose tenha buscado uma nova válvula de escape para tanta rebeldia, ao produzir um disco que serve de testemunho para um mundo pós-Bush devastado pelas guerras, aquecimento global e recesso econômico.
A mídia esperava que o mentor da Guns explicasse o título de seu álbum e o motivo para finalmente lançá-lo em novembro de 2008. Axl não se prontificou a explicar nada, talvez pelo fato de tais respostas serem evidentes na atual situação em que o mundo se encontra.
O título "Chinese Democracy" pode ser encarado como uma aparente ofensa ao regime autoritário da República Popular da China (que impediu o comércio do CD naquele país), mas, na verdade, está mais para uma denúncia velada contra a imposição da política norte-americana aos países do oriente médio.

"Você pensa que têm tudo sobre controle
E se você bater neles o suficiente, eles morrerão
É como uma caminhada no parque de uma jaula
Quando sua Grande Muralha rachar,
culpe a si mesmo"

A "Grande Muralha" citada na letra acima não se refere ao monumento chinês. Trata-se da fortaleza constituída pelo exército e poder americanos. Essa "muralha", segundo a canção interpretada por Axl Rose não é (e nunca foi) infalível... Pelo menos é o que pensam os terroristas. Mas é atrás dessa metafórica muralha que se escondem homens públicos com uma péssima política internacional, industriários poluidores de ecossistemas, torturadores de Guantánamo, maus administradores públicos e corruptos que criaram o monstro da crise imobiliária e, consequentemente, o abalo da economia mundial.
Tudo leva a crer que o roqueiro atrevido de canto estridente e shortinho apertado, acima de qualquer interesse comercial, esperou o agravamento da política norte-americana e o fim da Era Bush para lançar seu mais patriótico trabalho musical.
E antes que a muralha americana volte a se fortalecer com a política mais racional de Barack Obama, o grupo musical das armas e das rosas, inconscientemente (ou conscientemente, sei lá), faz uma crítica ao atual desmando da crise do capitalismo: essa que obriga governos a comprar parte de empresas falidas para salvá-las. Afinal, estatização não é coisa de socialista? E se socialismo é normalmente confundido com autoritarismo, que droga de "democracia chinesa" é essa?
Se o governo chinês entendesse a rebeldia do Rock N' Roll e buscasse refletir um pouquinho sobre a atual situação dos EUA talvez liberasse o álbum para venda naquele país. Mas, pensando bem, se governos autoritários entendessem de metáforas, Axl estaria consagrado na China e Chico Buarque morto no Brasil. Bom... sou mais o Chico! Só ouvi Guns para agradar minha mulher e escrever esse artigo, na expectativa que Chinese Democracy chegue ao Oriente Médio e faça os iraquianos pouparem seus sapatos."

João Pedro Roriz - Escritor e Jornalista --
Assessor de Cultura da Universidade Castelo Branco --Rio de Janeiro
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